data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Anselmo Cunha (Diário)
O Rio Grande do Sul completa, nesta sexta-feira, um mês e meio com todas as regiões em bandeira preta, a mais rígida do modelo de Distanciamento Controlado. Mesmo com o sistema de saúde penando altas taxas de ocupação em todo Estado, setores econômicos pedem flexibilizações das restrições em prevenção ao contágio. Tudo isso convergiu para a reunião do Gabinete de Crise nesta quinta-feira, quando foram discutidos cenários de mudanças nas regras atualmente em vigor. O anúncio oficial ainda não foi feito, tampouco em que áreas haverão mudanças, mas a tendência é a confirmação de um abrandamento.
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A reunião do gabinete contou com a presença do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB). Ele tem uma posição menos rígida em relação as medidas restritivas e, na quarta-feira, já havia se reunido com o governador Eduardo Leite (PSDB). Depois do encontro, Leite afirmou ser intenção e expectativa do governo estadual a liberação, aos finais de semana, de serviços que hoje não podem operar nestes dias. As mudanças são chamadas por Leite como o "passo seguinte" e dependem também dos planos de fiscalização de cada município, solicitados pelo governo estadual.
- Dados e evidências recentes demonstram redução de internações e óbitos, ainda em um patamar elevado. Sem negar a realidade dura do coronavírus. Mas se expressa um momento de redução de incidência de casos - refletiu o governador.
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A nível estadual, os casos confirmados por dia são menos numerosos. Quando a bandeira preta entrou em vigor, a média móvel de confirmações diárias era 7.053. O pico foi em 1º de março, com 7.890. Em 6 de abril, o dado era de 901, uma queda de 88% em relação à ao auge.
Em Santa Maria, conforme dados do Observatório em Saúde da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), essa comparação, para o mesmo período, indica queda de 49% (de 214 casos por dia para 107). Ambas quedas são entendidas como reflexos das cinco primeira semanas de bandeira preta geral.
CONTRAPONTO
Por outro lado, a média móvel de óbitos é um dado que reage mais tarde às medidas de restrição. Santa Maria ainda não experimenta queda nesta indicador em relação ao começo bandeira preta. Em 26 de fevereiro, o número de vítimas da Covid-19 por dia era três. O auge foi em 27 de março, com nove. Em 6 de abril, o número era 5. Há queda em relação ao pico, mas ainda é maior que o começo das restrições mais rígidas.
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Desde a primeira bandeira preta, o Estado teve aumento seguido de queda na média móvel de óbitos. Em 26 de fevereiro, o número diário de mortes por Covid era 77. O auge foi em 25 de março, com 270. Em 6 de abril, o dado era 181, uma queda de 32% em relação ao pico, mas ainda maior que o começo do período analisado.
Número de casos e óbitos são levados em conta, segundo o governador, para analisar mudanças os protocolos. O principal indicador do modelo de Distanciamento Controlado, porém, é a ocupação das unidades de tratamento intensivo.
Isso porque, mesmo que a fórmula indique bandeira menos restrita, o Estado estabelece um valor mínimo entre leitos livres e leitos ocupados por pacientes com Covid. Se essa proporção for menor que 0,35 a nível estadual, a bandeira será preta independente da fórmula.
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Nesta tarde, conforme o painel de monitoramento da Secretaria Estadual da Saúde (SES), eram 158 leitos de UTI livres no Rio Grande do Sul. Os internados com Covid ou com suspeita para a doença eram 2.412. Com esses números, a proporção é de 0,06 UTIs livres para cada leito ocupado por alguém infectado pelo coronavírus.
Coordenadora do Laboratório de Epidemiologia do Departamento de Saúde Coletiva da UFSM, a médica epidemiologista Marinel Dall'Agnol, acredita que não é o momento para abrandar. Para ela, a flexibilização já gerou aumento de casos em outro momento.
- Se quiser manter a curva em um patamar alta, flexibiliza. Se quiser achatar, para amenizar a pandemia, tem que manter o isolamento - argumenta.
O professor de Infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki defende que as restrições sejam mantidas, e não abrandadas. Mesmo com casos em queda, a diminuição deveria ser ainda maior:
- As mortes só irão cair quando os hospitais desafogarem. Só desafogarão se continuar diminuindo o número de novos doentes.
O médico também critica o próprio modelo de Distanciamento Controlado. Segundo ele, a fórmula não impede que a situação de colapso da saúde se repita. Para ele, o melhor caminho para a tomada de decisões é a análise e interpretação de dados atuais, e não a partir de semana anteriores.
EXPECTATIVA
Atualmente, o comércio não essencial não pode funcionar em sábados, domingos e feriados. Nestes dias, restaurantes só abrem para modalidade pegue e leve e tele-entrega. A cogestão permite afrouxamento nestas restrições.
Ainda assim, o pedido é por mais flexibilidade. Ao Diário, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Santa Maria, Ewerton Falk, relatou que o prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) mandou diretamente ao governador um pedido de alteração para o setor gastronômico.
Na semana passada, a Federação das Associação Comerciais do Estado (Fecomércio-RS) pediu a abertura de lojas nos finais de semana. A presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Marli Rigo, encara com otimismo a possibilidade de abrandamento. Para ela, o momento já é viável para ampliar horário de funcionamento do comércio.
- Não é no comércio e com o horário menor que muda a situação da saúde. A gente precisa dessa dilatação dos horários. Às 18h, tudo fechado, chega a dar dó. Eu acho que os poderes têm que enxergar que (o abrandamento) é uma solução que melhora até a condição de saúde das pessoas, para que ela saiam em horários diferentes - afirmou Marli, que também espera a possibilidade de abertura aos finais de semana.
A prefeitura afirmou que não vai se manifestar sobre mudanças de protocolo até que haja anúncio oficial do Estado.